BATALHA ESPIRITUAL QUE ERRA O ALVO

Uma Batalha Que Erra o Alvo

 

Esquias Soares diz que a análise do tema Batalha Espiritual... enfoca o conjunto de crenças e práticas neopentecostais, mas que vem alcançando espaço em nosso arraial. São inovações provenientes de várias fontes: erros de interpretação de textos bíblicos, experiências pessoais e revelações de origem estranha. Trata-se de distorção doutrinária que está muito em voga na mídia evangélica e que, nos últimos anos, vem recebendo aceitação de muitos líderes desavisados.

 

Certo pastor tinha uma automóvel brasilia, não se sabe porque roubavam brasilia naquela época. Ele ficou cinco anos sem automóvel, certo dia pegando uma carona com certa irmã com sua família. Foi  questionado pela irmã se já tinham determinado ao diabo e que ele devolvesse sete vez mais do que roubou? Pelo que responderam: “Não minha nossa casa só conversa com Deus!”

Que estranho conversar com o diabo pra ele devolver, conversamos só com Deus, porque há um só Deus e há só um Mediador entre Deus e os homens Jesus Cristo homem. I Timóteo 2:5 “Porque há um só Deus, e um só Mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo homem”.

Este esquema difundido como ensino genuinamente bíblico de batalha ou guerra espiritual é essencial ao culto cristão, mas não como vem sendo disseminado. Seu conteúdo é perigoso propenso ao satanismo do que na vitória de Cristo sobre eles já na cruz (Cl 2.14,15).

 

A Batalha Espiritual é bíblica e está explicita no texto de Efésios capitulo seis. Só não é bíblica a confusão que se faz a respeito deste tema em muitas igrejas. Há muita gente defendendo um ensinamento de Batalha Espiritual nos dias atuais que não tem um amparo na Palavra de Deus. Não posso dizer que tais pessoas são desonestas no que diz respeito ao assunto, não duvido da honestidade delas, o que eu duvido mesmo é do ensino destas pessoas. Há muitos (não todos) envolvidos em ministério de libertação, que trazem para dentro da igreja uma doutrina desnecessária sobre demôniologia ou batalha espiritual sem amparo teológico, baseado em experiências pessoais subjetivas. Tais ensinos são moldadas nas experiências pessoais de ex-bruxos, e ex-pais de santos que acreditam que precisam ensinar a Igreja de como o diabo atua ou opera. Se existe alguma necessidade de se conhecer a maneira do diabo atuar ou operar, é aquela que está registrado nas Escrituras e não aquelas ensinadas por ex-bruxos ou ex-pias de santos. Não é novidade para o cristão os modus operandis do diabo. Precisamos nos perguntar é: Porque será que Paulo deixou claro que a primeira peça da armadura de Deus é o cinturão da verdade? Porque o diabo é o pai da mentira e nunca houve verdade nele (Jo 8.44), e para lutar contra ele devemos em primeiro lugar nos cingir da verdade (Ef 6.14). Ele trouxe morte espiritual para Adão e Eva no Éden através da mentira, ainda hoje usa a mesma estratégia, mentir aos homens. Infelizmente a maior parte dos ensinos sobre a ação do diabo ensinada por muitos (não todos) no ministério de libertação, enaltece mais a pessoa do inimigo do que a pessoa de Deus. Outrossim se existisse a necessidade de se conhecer a maneira do diabo atuar para podermos lutar contra ele além daquelas expressa nas Escrituras, com certeza os escritores bíblicos teriam nos deixado isto por escrito.

 

O ensino de batalha espiritual que com freqüência tem sido apresentado nas igrejas e na enxurrada de livros publicados no Brasil perdem o verdadeiro foco que os apóstolos tinham em mente quando escreveram sobre o assunto. Tais ensinos infelizmente como disse certo escritor, colocam de maneira errada, que as forças do mal (o diabo e seus demônios) no pé de igualdade com as forças do bem (Deus e os cristãos), e que o poder entre ambas é tão equilibrado que este conflito só poderá ser vencido se os cristãos intercederem por um período longo de horas destruindo as fortalezas. Onde encontramos isso nos textos do N. Testamento? Ensinam que os cristãos devem ficar travando guerra com a força do mal através da intercessão. Em alguns ministérios aqueles que exercem o ministério de intercessão são chamados de guerreiros de oração.

 

A intercessão e a oração são ministérios bíblicos e de grande importância para a vida da Igreja, o que não é bíblico é lutar contra o diabo e seus demônios através da oração ou da intercessão. Isso não se encontra na Bíblia. Não há uma única oração na Bíblia dirigida ao diabo. Nós cristãos oramos a Deus, e nunca ao inimigo, e oramos a Deus para que nos fortaleça como seus soldados e nos dê palavras de ousadia ao abrir da nossa boca na evangelização. É comum vermos pessoas que estão orando a Deus e de repente sem mais nem menos mudam o alvo de sua oração. Estavam conversando com Deus e do nada passam conversar com o diabo. Com o diabo não conversamos, nós o repreendemos e o expulsamos quando ele se manifesta em pessoas. Infelizmente muitas pessoas têm colocado seu foco no inimigo e não em Deus. Parece um fascínio pelo mal.

 

Paulo Romeiro, em seu livro Evangélicos em Crise, pag. 117, diz: “Conheci pessoalmente um pastor de Portland, Estado de Oregon, nos Estados Unidos, chamado Judson Conwell. Ele escreveu vários livros e li alguns deles. Nunca vou me esquecer do que ele ensinou no Let Us Praise (Vamos Louvar). Ele conta que todos os domingos de manhã colocava a congregação em pé e passavam um bom tempo repreendendo os maus espíritos: "Espírito de miséria, sai em nome de Jesus! Espírito de tristeza (...)" e acrescentava muitos outros, como adultério, depressão, vício, fofoca e alcoolismo. Certa vez, ao estar orando e meditando na presença de Deus, o pastor Judson percebeu pelo Espírito Santo que não agia direito. Estava desviando a atenção de sua congregação do Senhor e colocando-a no inimigo. Resolveu parar com aquilo. É como se Deus lhe dissesse: "Não faça mais isso, meu filho. Da próxima vez que você colocar o meu povo em pé na minha casa, diga-lhe que me adore. Não se preocupe com os demônios. Eu cuido deles para você". E assim foi. Depois que o pastor desenvolveu um louvor dinâmico e bíblico em sua igreja, o ministério cresceu muito”.

 

Desviar a atenção do Senhor e colocá-la no inimigo é o que tem acontecido infelizmente em muitos (não todos) ministérios de libertação. Devemos tomar muito cuidado com o extremismo, com o exagero, porque estes ensinos dão ao diabo um poder que ele não tem, colocando-o em pé de igualdade com o Senhor, ele está derrotado a partir da cruz.

 

Paulo Romeiro ainda acrescenta no mesmo livro pag. 118, diz: “Tive uma experiência interessante na Nigéria, há vários anos. Na última noite que passei naquele país, num culto de despedida, o pastor da igreja colocou-nos de joelho para a oração. Até aí, tudo bem. Depois de um certo tempo, ele pediu que repetíssemos as suas palavras e começou a repreender os espíritos maus: "espírito de tristeza, sai em nome de Jesus! espírito de orgulho, sai em nome de Jesus! espírito de ódio, sai em nome de Jesus", e assim foi por um bom tempo. De repente, percebi que estava fazendo algo errado e pus-me a pensar: "Onde está na Bíblia que eu tenho que me ajoelhar para falar com os demônios?" Interrompi aquela minha oração antibíblica e aguardei sentado pela continuação do culto. Quando tive a oportunidade de falar à igreja, comentei sobre uma parte do Salmo 23: "Preparas-me uma mesa na presença dos meus adversários, unges-me a cabeça com óleo; o meu cálice transborda" (SI 23:5). Disse-lhes que os demônios estariam sempre por perto, mas que Deus tem poder para nos prover um banquete, unção e cálice transbordante, mesmo na presença dos inimigos. Olhemos então para o Senhor, para o banquete, para a unção, para o cálice transbordante, e não para o inimigo”!

 

Alguns ensinam e defendem que devemos travar uma batalha com o diabo através da oração, afirmando que os demônios podem impedir nossas orações de chegar ao trono de Deus nos céus, assim como impediu a oração de Daniel, que teve que guerrear em oração por 21 dias.

A primeira vista parece que é isto mesmo a oração de Daniel foi impedida de chegar no céu e ele só foi vitorioso porque batalhou em oração. Mas o texto registrado nas Escrituras não dize que a oração de Daniel foi impedida. Vejamos o que diz o texto:

 

 “Então me disse: Não temas, Daniel, porque desde o primeiro dia em que aplicaste o teu coração a compreender e a humilhar-te perante o teu Deus, são ouvidas as tuas palavras; e eu vim por causa das tuas palavras. Mas o príncipe do reino da Pérsia me resistiu vinte e um dias, e eis que Miguel, um dos primeiros príncipes, veio para ajudar-me, e eu obtive vitória sobre os reis da Pérsia” (Dn 10.12,13).

 

O texto bíblico não diz que a oração de Daniel foi impedida, o anjo deixou claro que desde o primeiro dia foram ouvidas as suas palavras: ...desde o primeiro dia em que aplicaste o teu coração a compreender e a humilhar-te perante o teu Deus, são ouvidas as tuas palavras.

 

Não foi a oração de Daniel que foi impedida, o que foi impedida foi a resposta trazida pelo anjo. Houve uma batalha naquele texto? Sim, houve. Mas mesmo assim, não foi o período de 21 dias de oração de Daniel que habilitou ou fez aquele anjo vencer aquela batalha e trazer a resposta para sua oração. O anjo não disse: Oh Daniel se você não tivesse orado por 21 dias, não sei não... acho que não poderia ter vencido, sem a sua ajuda.

 

Daniel orou a Deus pedindo uma resposta sobre o futuro do seu povo, e sua oração foi ouvida logo no primeiro dia, e continuou a orar a Deus e não ao diabo, até ao dia em que a resposta chegou. Ele não travou nenhuma batalha em oração, quem estava batalhando eram os demônios contra os anjos de Deus e a oração de Daniel não influenciou em nada aquela batalha. Se não, o anjo teria dito.

 

Cristãos que acreditam travar batalhas contra os poderes do mal através da intercessão, estão invalidando a vitória de Cristo na cruz. A Bíblia deixa claro que o diabo e seus demônios já foram vencidos por Jesus na cruz:

 

“Havendo riscado a cédula que era contra nós nas suas ordenanças, a qual de alguma maneira nos era contrária, e a tirou do meio de nós, cravando-a na cruz. E, despojando os principados e potestades, os expôs publicamente ao desprezo e deles triunfou em si mesmo” (Cl 2.14,15).

 

A palavra despojar significa: tirar, despir e desarmar. Jesus mediante sua morte triunfante na cruz despiu os poderes de seus inimigos, tirou-lhes as suas armas. Por isso disse: É me dado todo poder no céu e na terra (Mt 28.18). Ele os deixou impotentes em relação a Igreja, não só os desarmou como nos deu poder sobre eles Mc 16.16; Lc 10.17-19). Jesus não só venceu o diabo na cruz, como zombou dele, o termo publicamente os expôs ao desprezo significa zombou deles. A Igreja precisa compreender que o diabo e seus demônios já foram vencidos por Jesus na cruz. E Jesus também nos concedeu vitória sobre o diabo, colocando em nós a Sua Palavra: Eu vos escrevi, jovens, porque sois fortes, e a Palavra de Deus está em vós, e já vencestes o maligno (1Jo 2.14).

 

Uma Igreja que guarda a Palavra de Deus já venceu o diabo. A Bíblia ainda acrescenta: Filhinhos, sois de Deus, e já os tendes vencido; porque maior é o que está em vós do que o que está no mundo (1Jo 4.4).

 

A Bíblia é clara em dizer que o diabo já foi vencido por Cristo na cruz e por aqueles em que a Palavra de Deus habita porque Cristo os libertou do poder do inimigo (Cl 1.13). Mas a mesma Bíblia que diz que o diabo já está vencido, também diz que ainda temos uma luta contra principados e potestades. Mas esta luta da Igreja contra o diabo e seus demônios não consiste de uma luta contra eles para vencê-los, pois eles já foram vencidos na cruz.

 

Nossa luta contra o diabo segundo a Bíblia consiste numa luta direta e indireta. Na parte que fala da luta travada diretamente contra ele, a Bíblia faz referencia ao termo resistência. Que nos transmite a ideia de resisti-lo e não atacá-lo. Nesta parte da luta nós não o atacamos, sofremos seus ataques e resistimos. Nesta parte da luta direta contra o inimigo, é ele quem vem nos confrontar e não nós a ele. Por isso que a Bíblia diz que devemos usar toda a armadura de Deus para podermos permanecer firmes contra as suas astutas ciladas: Revesti-vos de toda a armadura de Deus, para que possais estar firmes contra as astutas ciladas do diabo (Ef 6.11).

 

O texto bíblico é claro em dizer que a nossa luta direta contra o diabo não consiste em vencê-lo, consiste meramente em resistir as suas ciladas e artimanhas, fazendo uso de toda armadura de Deus, para que possamos permanecer firmes: Portanto, tomai toda a armadura de Deus, para que possais resistir no dia mau e, havendo feito tudo, ficar firmes (Ef 6.13).

 

O ensino de que devemos lutar contra o inimigo através da oração é um ensino da batalha que erra o alvo. Certo escritor disse: Quando cristãos imaginam os poderes demoníacos reunidos contra eles num conflito espiritual e acreditam que sua batalha contra esses principados requer longos períodos de intercessão, estão invalidando a vitória que Cristo conquistou por meio de sua morte e ressurreição. Visualizar os poderes de satanás contra o povo de Deus, numa luta que pode ser perdida se os cristãos não lutarem tempo suficiente, é negar a vitória de Cristo e atribuir um credito ao inimigo.

 

Qualquer igreja, ministério ou pessoa que busca travar uma guerra contra o diabo através da oração para vencê-lo, ainda não entendeu a mensagem do Evangelho. Crer ou ensinar que os cristãos ainda precisam vencer o inimigo através da oração é anular a redenção eterna realizada pelo Senhor na cruz.

 

Na cruz Deus já nos libertou da potestade das trevas, e nos transportou para o reino do Filho do seu amor (Cl 1.13). E que triunfou sobre o inimigo na cruz (Cl 2.15).

 

A Bíblia diz que Cristo está acima de todo principado, poder, potestade e domínio: Que manifestou em Cristo, ressuscitando-o dentre os mortos, e pondo-o à sua direita nos céus. Acima de todo o principado, e poder, e potestade, e domínio, e de todo o nome que se nomeia, não só neste século, mas também no vindouro; E sujeitou todas as coisas a seus pés, e sobre todas as coisas o constituiu como cabeça da igreja. Que é o seu corpo, a plenitude daquele que cumpre tudo em todos (Ef 1.20-23)

 

E a Bíblia ainda acrescenta que em Cristo nós a Igreja estamos assentados nos céus: E nos ressuscitou juntamente com ele e nos fez assentar nos lugares celestiais, em Cristo Jesus (Ef 2.6).  

    

O Senhor não só venceu o diabo na cruz desarmando-o (Cl 2.15), como também concedeu a Sua Igreja poder sobre ele: E, chamando os seus doze discípulos, deu-lhes poder sobre os espíritos imundos, para os expulsarem, e para curarem toda a enfermidade e todo o mal. Curai os enfermos, limpai os leprosos, ressuscitai os mortos, expulsai os demônios; de graça recebestes, de graça daí (Mt 10.1,8).

 

E voltaram os setenta com alegria, dizendo: Senhor, pelo teu nome, até os demônios se nos sujeitam. E disse-lhes: Eu via Satanás, como raio, cair do céu. Eis que vos dou poder para pisar serpentes e escorpiões, e toda a força do inimigo, e nada vos fará dano algum. Mas, não vos alegreis porque se vos sujeitem os espíritos; alegrai-vos antes por estarem os vossos nomes escritos nos céus (Lc 10.17-20).

 

E disse-lhes: Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura. Quem crer e for batizado será salvo; mas quem não crer será condenado.  E estes sinais seguirão aos que crerem: Em meu nome expulsarão os demônios; falarão novas línguas. Pegarão nas serpentes; e, se beberem alguma coisa mortífera, não lhes fará dano algum; e porão as mãos sobre os enfermos, e os curarão (mc 16.15-18).

 

O diabo não precisa ser vencido, ele já está vencido por Jesus.

 

Com respeito a nossa luta indireta contra o diabo, podemos afirmar com base nas Escrituras que está luta é a de levar a libertação às pessoas que ainda estão debaixo de seus domínios nas trevas.

 

A nossa luta direta diz respeito a resistência, enquanto que a nossa luta indireta diz respeito a evangelização. Depois da resistência direta ao diabo, nossa luta continua indiretamente conquistando as almas que ainda estão aprisionadas por ele no reino das trevas, ou seja, lutamos indiretamente contra ele entrando em seu território e conquistando os seus súditos para Cristo através da pregação do Evangelho.

 

Qualquer Igreja que procura travar uma batalha espiritual contra o inimigo através da oração para tentar destroná-lo da vida das pessoas, na verdade está se distraindo do foco da Evangelização. O diabo só perderá seu território à medida que a Igreja avança na evangelização conquista almas do mundo para o Senhor.

 

Por isso que se tornam ineficazes estes movimentos de marchas para Jesus, que visam apenas declarar que o Brasil é do Senhor através da oração, quando deviam é levar a mensagem do Evangelho às almas que se encontram perdidas no Brasil para que realmente se tornem do Senhor. Infelizmente até mesmo dentro de muitas Igrejas se vê muitos pregadores que abraçaram a confissão positiva e ensinam as pessoas a declararem que: As pessoas, as famílias, as casas, a rua, o bairro, a cidade, o estado e ou o pais são do Senhor.

 

Se a Igreja não se mover à evangelizar, as almas jamais vão se converter ao Senhor. Não adianta declaração positiva, o que precisamos de verdade é de evangelização. O Brasil nunca será do Senhor se a Igreja não se dispor a pregar o Evangelho.

 

A Bíblia ensina que, para que as pessoas possam ser salvas precisam crer e invocar o nome do Senhor. E esta é uma decisão pessoal, nós não podemos fazer isto por elas. Então não adianta eu ficar fazendo declaração mesmo com fé para elas serem salvas, porque nunca serão se não acreditarem no Senhor Jesus através do Evangelho. A Bíblia deixa isto bem claro ao dizer: Porque todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo. Como, pois, invocarão aquele em quem não creram? e como crerão naquele de quem não ouviram? e como ouvirão, se não há quem pregue? E como pregarão, se não forem enviados? (Rm 10.13-15).

 

A verdade bíblica é aquela que mostra que a Igreja está numa luta indireta contra o inimigo através da evangelização das almas e não através de uma batalha espiritual contra ele através da oração.

 

Acreditar que pela oração e intercessão nós cristãos podemos travar uma batalha espiritual contra o diabo destronando-o da vida das pessoas não convertidas não é bíblico. Como podemos destronar o diabo da vida das pessoas não convertidas? O que a Bíblia diz a este respeito? Podemos destroná-lo através da oração ou da evangelização?

 

A oração a Deus, e não ao diabo, deve ser feita em todo tempo (1Ts 5.17), e ela com certeza é uma ótima ferramenta de ajuda para o crente que se preparar para evangelizar, e uma arma para quem está orando por aquele que está indo evangelizar. E o crente deve orar para que lhe seja dada no abrir da sua boca a palavra com confiança, para fazer notório o mistério do evangelho, assim como Paulo pediu em Efésios 6.18,19: Orando em todo o tempo com toda a oração e súplica no Espírito, e vigiando nisto com toda a perseverança e súplica por todos os santos. E por mim; para que me seja dada, no abrir da minha boca, a palavra com confiança, para fazer notório o mistério do evangelho.

 

Qual quer ensino contrario a isto não condiz com a verdade da Palavra de Deus. Algumas pessoas pensam que pela oração as pessoas irão se converter a Deus. Não adianta orarmos para que Deus converta as pessoas, pois isto Ele não fará. Precisamos compreender que Deus guando criou os homens doto-lhes de livre arbítrio. Deus nunca impôs sobre os homens a Sua vontade. Não fez isto no Éden, também não fez durante o ministério terreno de Jesus, não fez na época da igreja primitiva e muito menos o fará nos dias de hoje.

 

Há uma outra crença no meio do ministério de libertação que crente nascido de novo fica endemoninhado. Vamos partir para este tema agora.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

UM CRENTE NÃO PODE FICAR ENDEMONINHADO

 

Ouve-se muito falar de cristão ficar endemoninhado ou ter demônios. Resolvi acrescentar a este livro, se é possível ou não um cristão ficar endemoninhado. Porque há muitos que estão saindo por ai para expulsar demônios de crentes. E resolvi escrever aqui sobre isso porque há uma confusão na mente de muitos sobre tal assunto e minha intenção aqui é destacar principalmente o que a Bíblia diz a respeito a este assunto.

 

Quero de inicio deixar dois textos Bíblicos que se encontram em Atos 17.10,11 e 1 Coríntios 4.6, como base para meu discurso. Que dizem:

 

E logo os irmãos enviaram de noite Paulo e Silas a Beréia; e eles, chegando lá, foram à sinagoga dos judeus. Ora, estes foram mais nobres do que os que estavam em Tessalônica, porque de bom grado receberam a palavra, examinando cada dia nas Escrituras se estas coisas eram assim (At 17.10,11).

 

E eu, irmãos, apliquei estas coisas, por semelhança, a mim e a Apolo, por amor de vós; para que em nós aprendais a não ir além do que está escrito, não vos ensoberbecendo a favor de um contra outro (1Co 4.6).

 

É certo pelas Escrituras Sagradas que os demônios agem por tentação (Mt 4.1), sedução (Mt 4.8), influencia (1Cr 21.1), opressão (At 10.38) e possessão (Mt 8.16). Porem algumas coisas preciso deixar claras aqui, e isto pelas Escrituras, que afirmam que é possível um cristão ser tentado, seduzido, oprimido e influenciado, pois todas estas ações são de fora para dentro, mas, admitirmos que um crente nascido de novo, gerado por Deus, sendo habitação do Espírito Santo ficar possuído pelo diabo isto é inadmissível e contraria as Escrituras.

 

Numa apostila que tratava do assunto que chegou em minhas mãos dizia haver a manipulação demoníaca na vida do crente, o escritor da apostila definiu manipulação demoníaca na vida do crente como endemoninhamento, palavra esta inexistente na língua portuguesa.

 

A palavra existente na língua portuguesa é endemoninhar, que segundo o dicionário de Aurélio Buarque de Holanda Ferreira é meter (colocar) o demônio no corpo da pessoa ou do animal. É provável que endemoninhar seja uma descrição das praticas de muitos dos centros espíritas existentes no Brasil. E infelizmente pode estar descrevendo também o ministério de libertação de muitas pessoas (não todas) desavisadas dentro da igreja, que ao invés de expulsarem os demônios das pessoas ficam é invocando os demônios na vida delas, até mesmo das que são crentes. O Senhor Jesus não nos chamou para orarmos pelas pessoas invocando a manifestação de demônios em suas vidas, pelo contrario nos ordenou para expulsarmos os demônios, que por si só irão se manifestar na vida daquelas que estiverem endemoninhadas.

 

Nunca vemos pelas Escrituras que alguém orou invocando espíritos malignos sobre os outros, esta pratica é pagã e não cristã.

 

Orar invocando demônios sobre as pessoas é o mesmo que endemoninhar as pessoas. Há muitos (não todos) no ministério de libertação que ao invés de expulsarem demônios estão é colocando demônios nas pessoas.  Certo pastor conhecido pelo nosso ministério, vou poupar expor seu nome aqui, mas espero que um dia ele possa ler o que estou escrevendo ou me ouvir a respeito deste assunto. Um dia este pastor orando por mim a pedido de uma pessoa começou invocar os demônios para que se manifestassem. Na hora repreendi aquela oração dizendo: Não! Na minha vida não, sou morada de Deus, sou templo do Espírito de Deus, não permito que demônio algum se manifeste em minha vida. Deveria ter parado na hora a oração deste pastor, e tê-lo repreendido, quem sabe com isso ele parasse de fazer tais invocações na vida dos crentes. 

 

O termo manipulação demoníaca pode até ser admitido por nós, desde que signifique apenas uma influencia demoníaca para se fazer algo e não uma possessão. Mas a definição de manipulação demoníaca do escritor da apostila não é influencia, é possessão. Pois ele define endemoninhamento da seguinte forma: uma manifestação na qual a pessoa entra em transe, com ações e atitudes que não são suas. O escritor da apostila admite ainda, o demônio controlando o crente: um demônio pode se manifestar na vida do crente e controlar temporariamente suas ações.

 

Admitimos que o crente pode até fazer algo influenciado pelo diabo, e mesmo assim este crente será responsável por suas próprias ações e não o diabo, mas, não podemos admitir que o diabo possa controlar a ação do crente, pois isto é o mesmo que dizer que o crente está possuído.

 

Antes de mostrar o que a Bíblia fala a respeito desta suposta doutrina, permita-me dizer que são seus divulgadores. Vejamos primeiro quem são os propagadores desta doutrina, o que dizem a respeito dela e qual é o meio ou a base que usam para determinarem ela como doutrina.

 

Merrill F. Unger afirmou em seu livro Demonologia Bíblica já ano de 1952, que somente os incrédulos podem ficar endemoninhado. Mas, Unger mudou de posição anos mais tarde, por que recebeu muitas cartas de relatórios de experiências de demônios sendo expulsos de crentes. E Unger admitiu em seu livro: O que os demônios podem fazer aos Santos, que assumiu uma posição assim em seu livro Demonologia Bíblica porque as Escrituras, segundo ele, não são claras com respeito a este assunto.

 

A questão é: a Bíblia não é clara sobre este assunto? Claro que é, e vamos aqui procurar esclarecer isso.  Mas, antes devemos perguntar: Se a Bíblia não é clara sobre este assunto, sobre um crente ficar endemoninhado, como Unger pode afirmar isto como doutrina quando a Bíblia não é clara sobre isso? Se a Bíblia não é clara sobre este assunto, então não se pode afirmar uma doutrina sobre este assunto. Devemos falar o que a Bíblia fala, e devemos nos calar quando a Bíblia se cala.

 

As doutrinas são estabelecidas dentro daquilo que a Bíblia diz, e não no achômetro dos interpretes. Paulo afirma isto ao dizer que não devemos ir alem do que está escrito (1Co 4.6), e os bereanos eram mais nobres que os tessalonecenses porque não só recebiam de coração a Palavra, mas, eram prudentes, pois examinavam as Escrituras todos os dias para verificarem a autenticidade da mensagem de Paulo e Silas (At 17.10,11). 

 

Em seu outro livro: O que os demônios podem fazer aos Santos, de 1991 pag. 69 Unger diz:

 

A verdade da questão é que as Escrituras em nenhum lugar declaram que um verdadeiro crente não pode ser invadido por Satanás ou seus demônios.

 

A outra questão é: a Bíblia não declara em nenhum lugar sobre este assunto? Claro que declara, e vamos aqui procurar esclarecer isso.  Os problemas de Unger são pelo menos dois. O primeiro é que com esta declaração demonstra conhecer pouco as Escrituras, ou, que não sabe mesmo é interpretá-las. Pois diz que elas não são claras sobre o assunto ou que não em nenhum lugar declaram sobre o assunto, o que não é verdade.

 

O segundo problema é que Unger mudou de opinião com respeito a tal doutrina, de um crente ficar endemoninhado, não porque reconheceu isto pelas Escrituras, mas, sim pelas experiências de relatos pessoais. Mas quem disse que as experiências pessoais podem determinar doutrinas? As experiências pessoais servem apenas para confirmarem uma doutrina e nunca determiná-la, a base da doutrina é a Bíblia e nunca as experiências das pessoas. Até mesmo os exemplos de experiências de pessoas na Bíblia não podem e não devem ser estabelecidos como doutrina, pois os exemplos Bíblicos só têm autoridade pratica quando amparado por uma ordem que os tornem mandamento universal.

 

Tiago disse para que os presbíteros orassem pelos enfermos ungindo-os com óleo (Tg 5.14), mas ele não criou tal doutrina, seguia um modelo estabelecido pelo Senhor (Mc 6.13), e recebeu a revelação do Espírito Santo para que determinasse tal pratica como sendo universal. Nem mesmo as experiências do Senhor Jesus, devem ser estabelecidas como doutrina para nós, quando as Escrituras não as tornarem mandamento. Por exemplo, o Senhor Jesus cuspiu no chão e fez lodo para curar um cego de nascença (Jo 9.6), mas, não nos mandou que fizéssemos o mesmo. Tal ação foi exclusiva do Senhor, pois tal pratica era uma prova de sua divindade, pois na cultura grega a crença era que pessoas consideradas divinas tinham poder de cura até mesmo em suas salivas. Assim também Ele soprou sobre os discípulos o Espírito Santo (Jo 20.22), mas, também não mandou que fizéssemos o mesmo, e em nenhuma parte das Escrituras vemos os apóstolos soprando o Espírito Santo sobre as pessoas, primeiro porque o Senhor não os mandou fazer isso, segundo porque quando o Senhor Jesus soprou sobre eles o Espírito Santo, estava reafirmando a Sua identidade divina, pois assim como Deus soprou sobre Adão o fôlego de vida, para que este tivesse vida, assim também soprou o Senhor sobre os discípulos o Espírito Santo para que estes fossem regenerados, ou nascessem de novo. Qualquer pessoa por mais bem intencionadas que esteja que procura soprar o Espírito Santo sobre outrem está usurpando para si um titulo divino. 

 

Unger não é inocente quanto a este assunto, pois sabe que não se deve formar doutrinas a partir de experiências, em seu livro: O que os demônios podem fazer aos Santos, de 1991 pag. 69 diz:

 

Naturalmente, a doutrina deve sempre ter precedência sobre a experiência. Nem pode a experiência jamais oferecer base para a interpretação bíblica. Apesar disso, se experiências consistentes chocam com uma interpretação, a única conclusão possível é de que há alguma coisa errada, ou com a própria experiência ou com a interpretação da Escritura que vai contra ela. Certamente a Palavra inspirada de Deus nunca contradiz a experiência válida. Aquele que procura a verdade com sinceridade deve estar preparado para consertar sua interpretação a fim de trazê-la em conformidade com os fatos como eles são.

 

O problema de Unger continua a aumentar, ele tem razão em dizer que a doutrina tem que preceder a experiência, mas, o que seria experiência consistente no conceito de Unger? Ou melhor, quem é que vai poder determinar que tal experiência é a valida? Ninguém a não ser o próprio Deus em sua Palavra. Porque todas as seitas no mundo têm muitas experiências e para elas todas são consistentes e com isto sempre questionam as doutrinas Bíblicas. Unger faz o mesmo, ele questiona a doutrina, mas, para não ser considerado um herético ele camufla isto com a frase: Alguma coisa está errada com a interpretação da Escritura. É bom lembrar que o conceito correto de interpretação Bíblica é que a Palavra de Deus é absoluta em tudo o que diz, e que toda e qualquer experiência tem que estar de acordo com ela, senão, não é valida, pois contradiz a Palavra eterna de Deus. Mas, Unger valoriza tanto a experiência que inverte o conceito de interpretação Bíblica, pois diz: Certamente a Palavra inspirada de Deus nunca contradiz a experiência válida. Quando ele diz a Palavra inspirada de Deus nunca contradiz, está afirmando que ela não pode contradizer a experiência, está afirmando que o absoluto não é a Palavra e sim a experiência. O correto seria dizer o contrario: Certamente a experiência valida nunca contradiz a Palavra inspirada de Deus. Unger não diz o contrario porque, é possível que para ele, o importante não é a Palavra e sim a experiência.

 

Valnice Milhomens em seu livro Batalha Espiritual pag. 53 também afirma como doutrina que o crente pode ficar endemoninhado, mas, assume que tal doutrina é estabelecida não pelas Escrituras, mas, pelas experiências de pessoas envolvidas em batalha espiritual: 

 

Muitos defendem que, uma vez que o crente é habitação do Espírito (1 Coríntios 6:19), torna-se impossível um demônio habitar onde o Espírito habita (...) o fato de o nosso corpo ter-se tornado o templo do Espírito Santo não quer dizer que jamais poderá ser ocupado por maus espíritos. Não deveria, mas é possível (...) Todos quantos se envolvem no ministério de libertação testemunham a manifestação de demônios em cristãos.

 

Neuza Itioka cita os escritores norte-americanos: John e Paula Sanford, que são os grandes responsáveis pela infiltração de boa parte das distorções doutrinárias relacionadas com cura interior, batalha espiritual e maldição hereditária, na igreja. Em seu livro: Os Deuses da Umbanda, de 1987, pag. 190, ela cita as palavras deles assim:

 

Há aqueles que crêem que o cristão cheio do Espírito Santo não pode ser ocupado pelo poder demoníaco. Temos descoberto que isto não é um fato histórico, ainda que a teologia diga que o Espírito Santo e os demônios não podem habitar a mesma área. É o que tem acontecido. Temos expulsado demônios de centenas de crentes cheios do Espírito Santo, alguns deles não apenas cheios do Espírito Santo, mas poderosos servos do Senhor! Como isso acontece eu não posso explicar, mas tem sido para nós um fato incontestável de muitos anos de experiência exaustiva (John & Paula Sanford, livro: Curando o Espírito Ferido).

 

Este é o problema de todos os propagadores desta doutrina, todos estão fundamentados em experiências e nunca nas Escrituras.

 

Neuza Itioka em seu livro: Fechando as Brechas, de 1994 pag. 65, para tentar justificar sua crença de que o crente fica endemoninhado afirma:

 

Se partimos do pressuposto de que os crentes não podem ter demônios ou não podem ficar endemoninhados, corremos o risco de deixar muitos crentes opressos dentro da igreja, vivendo uma vida de grande prisão, mornidão, com uma dificuldade tremenda para crescer. Afinal, o inimigo deseja uma vida cristã medíocre. E aqui é preciso esclarecer a questão da terminologia usada. De acordo com dezenas de estudiosos do grego, daimonozomenai significa "ter demônios" e é melhor traduzido pela palavra "endemoninhado", nunca possesso, pois no Novo Testamento não vemos o uso do termo (...) Endemoninhado tem um significado lato, indicando o estado da pessoa que tenha um demônio ou até muitos demônios perturbando ou oprimindo sua vida. Quanto ao local onde ele fica, não é o mais importante. Ele pode ficar no corpo, fora do corpo, na alma da pessoa.

 

O primeiro problema de Neuza Itioka é que apesar de dizer que dezenas de estudiosos gregos afirmam que o termo grego para endemoninhado não significa possessão ela não cita os nomes de nenhum deles, para confirmar a sua doutrina. O segundo é que os exegetas gregos são unânimes em afirmar que o termo grego daimonizomai é possessão demoníaca. Vejamos o que dizem tais exegetas.

 

W. Vine em seu Dicionário de palavras exegéticas da Bíblia na pag. 543 diz: Daimonizomai do grego daimonizomai significa endemoninhado, ser possuído por demônio, agir sob o controle de um demônio. Aqueles que são afligidos dessa habita.

 

João Ferreira de Almeida especialista nas línguas originais também traduziu daimonizomai por possesso em sua tradução da Biblia: E, quando desceu para terra, saiu-lhe ao encontro, vindo da cidade, um homem que desde muito tempo estava possesso (daimonizomai) de demônios, e não andava vestido, nem habitava em qualquer casa, mas nos sepulcros (Lc 8.27).

 

R. N. Champlin especialista em grego ao explicar o texto de Mt 8.28 em sua coleção N. T. Int. Vers. Por Vers., fala dos dois endemoninhados gadarenos diz que o termo daimonizomai é usado para descrever a possessão demoníaca, em outro texto paralelo ele ainda afirma como possessão a ocupação de demônios nos corpos dos homens.

 

F. Wilbur Gingrich em seu Léxico Grego do N. Testamento na pag. 49 diz: daimonizomai significa estar endemoninhado, possesso.

 

Fritz Reinecker em seu livro Chave Lingüística do N. Testamento na pag. 08 afirma que:

daimonizomai significa estar possesso por um demônio.

 

Wilfrid Haubeck em seu livro Nova Chave Lingüística do N. Testamento pag. 95 declara que daimonizomai significa estar possuído por forças demoníacas.

 

James Strong em seu Dicionário de Palavras da Bíblia no termo de número 1139 descreve os endemoninhados como possuídos que expressavam a mente e consciência dos demônios e ainda acrescenta a crença dos judeus de que os demônios invadiam os corpos dos homens não apenas para produzir males, mas, também para destronar sua razão e tomarem seu próprio lugar. Assim ele diz:

 

daimonizomai é estar sob o poder de um demônio. No NT, estas são pessoas afligidas por enfermidades particularmente severas, tanto corporais como mentais (tais como paralisia, cegueira, surdez, perda da fala, epilepsia, melancolia, insanidade, etc.). Na opinião dos judeus, seus corpos eram invadidos por demônios, que os possuíam não apenas para afligir-los com males, mas também para destronar sua razão e tomar seu próprio lugar. Conseqüentemente, os possuídos eram compelidos a expressar a mente e consciência dos demônios que neles residiam. Acreditava-se que a cura deles requeria a expulsão dos demônios.

 

W. Bauer e W. F. Arndt no seu livro Léxico Grego do N. Testamento pag. 168 afirmam que a primeira tradução de daimonizomai é ser possuído por um demônio

 

Gerhard Kittel, em seu livro Dicionário Teológico do Novo Testamento 2º vol., p.19 também coloca como a primeira tradução de daimonizomai estar possuído por um demônio.

 

Thayeer´s Thayer, em seu livro Léxico Grego do N. Testamento pag. 123 diz que de daimonizomai é estar sob o poder de um demônio. Thayer ainda acrescenta:

 

No N.Testamento de daimonizomenoi, são pessoas afligidas especialmente com doenças graves, físicas ou mentais (tais como paralisia, cegueira, surdez, perda de apetite, epilepsia, melancolia, insanidade etc.), em cujos corpos, na opinião dos judeus, os demônios haviam entrado e mantido possessos por eles, não apenas para afligi-los com enfermidades, mas também para destronar a razão e tomar eles mesmos o seu lugar.

 

Orlando S. Boyer em seu livro Pequena Enciclopédia da Bíblica na pag. 223 diz a respeito dos endemoninhados: os endemoninhados estão possessos de demônios.

 

O terceiro problema de Neuza Itioka é justamente o contrario daquilo que ela diz, vejamos as suas palavras: Se partimos do pressuposto de que os crentes não podem ter demônios ou não podem ficar endemoninhados, corremos o risco de deixar muitos crentes opressos dentro da igreja, vivendo uma vida de grande prisão, mornidão, com uma dificuldade tremenda para crescer.

 

O que causa realmente problema e opressão na vida do crente, não é afirmar que ele, mesmo tendo nascido de novo, ainda assim fica endemoninhado ou que tem demônios? O que causa transtornos e celeuma na mente dos crentes não é justamente isso?

 

Para comprovar o que estou falando, na ultima sexta feira do mês de Janeiro deste ano (2015), nosso pastor pregou em nossa congregação sobre a passagem de Lucas 13 que fala da mulher, que havia dezoito anos, tinha um espírito de enfermidade. Algumas pessoas da igreja ficaram confusas com tal mensagem. Pelo que vieram comentar comigo que estavam com medo da maneira com que o pastor falou, inclusive por imitar algumas gargalhadas de demônios durante a pregação, pois deu alguns exemplos de suas experiências com demônios, e também porque entenderam pela mensagem dele que o diabo poderia pegá-las ou que elas poderiam estar endemoninhadas. Claro que o pastor não falou isso, mas, foi o que alguns entenderam, porque ele não foi muito claro na sua mensagem. Infelizmente é este tipo de ensino que traz opressão e confusão na vida do crente. 

 

Esta mulher citada em Lucas 13 estava realmente presa pelo diabo, como afirmou o Senhor (Lc 13.16), mas, admitir que ela era uma crente ou uma mulher nascida de novo é forçar a barra na interpretação do texto. Alguns acham que pelo fato do Senhor Jesus tê-la chamado de filha de Abraão (Lc 13.16), faz dela uma crente, ou uma convertida. O fato de alguém ser filho de Abraão não significa que é crente ou salvo. João Batista censurou os judeus que achavam que pelo fato de serem filhos de Abraão eram justos, salvos e não precisam de se arrepender (Lc 3.8), e o próprio Senhor não admitiu que pelo fato de alguém ser filho de Abraão significava que este era crente ou salvo, pois disse que os filhos de Abraão também vão para o inferno (Lc 16.24,25).

 

Os falsos mestres desta doutrina querem afirmar que endemoninhado não quer dizer possesso porque sabem que possessão demoníaca é estar completamente sobre o controle do demônio, e isto não querem admitir.  

 

A Bíblia admite que uma pessoa liberta de um demônio pode até ficar endemoninhada novamente, mas, só aquela que não estiver sendo habitada pelo Espírito Santo, ou seja o demônio que saiu de uma pessoa pode voltar e trazer consigo ainda outros sete conforme ensinou o Senhor: E, quando o espírito imundo tem saído do homem, anda por lugares áridos, buscando repouso, e não o encontra. Então diz: Voltarei para a minha casa, de onde saí. E, voltando, acha-a desocupada, varrida e adornada. Então vai, e leva consigo outros sete espíritos piores do que ele e, entrando, habitam ali; e são os últimos atos desse homem piores do que os primeiros. Assim acontecerá também a esta geração má. (Mt 12.43-45).

 

Observemos algumas palavras deste texto: Voltarei para minha casa. Estas palavras indicam que, como tal pessoa era possessa pelo demônio no passado, ou seja, ele a possuía, por isto ele afirma que tal pessoa é sua casa, ou sua propriedade.

 

A pergunta é: Os crentes que se convertem a Deus são casa de demônios? São propriedades de demônios? Ou são casa e propriedade de Deus? A Bíblia responde a esta pergunta dizendo que são casa de Deus (1Pe 4.17). Vejamos alguns textos Bíblicos que afirmam quem habita em nós:

 

E, se o Espírito daquele que dentre os mortos ressuscitou a Jesus habita em vós, aquele que dentre os mortos ressuscitou a Cristo também vivificará os vossos corpos mortais, pelo seu Espírito que em vós habita (Rm 8.11).

 

Não sabeis vós que sois o templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós? Se alguém destruir o templo de Deus, Deus o destruirá; porque o templo de Deus, que sois vós, é santo (1Co 3.16,17).

 

Ou não sabeis que o vosso corpo é o templo do Espírito Santo, que habita em vós, proveniente de Deus, e que não sois de vós mesmos? (1Co 6.19).

 

E que consenso tem o templo de Deus com os ídolos? Porque vós sois o templo do Deus vivente, como Deus disse: Neles habitarei, e entre eles andarei; e eu serei o seu Deus e eles serão o meu povo (2Co 6.16).

 

Guarda o bom depósito pelo Espírito Santo que habita em nós (2Tm 1.14).

 

A Bíblia diz que o Espírito Santo habita em nós (1Co 6.19), que o Pai e Jesus habitam em nós (Jo 14.23), que a fé habita em nós (2Tm 1.5), que o pecado habita em nós (Rm 7.20), mas, nunca afirma que o diabo está em nós, ou que se manifesta em nós, ou que nos possui, ou que habita em nós. 

 

As outras palavras do texto são: Acha-a desocupada. Quer dizer que é possível uma pessoa liberta ficar novamente possessa, desde que não tenha outro habitante na casa. O Senhor Jesus neste texto está dizendo indiretamente que uma casa que se encontra já habita por Deus, não pode ser habitada por um demônio, pois este só pode voltar a entrar novamente nesta casa se a encontrar vazia. Senão, não faria sentido algum o Senhor ter citado tais palavras: Acha-a desocupada.

 

A Bíblia nos ensina que aquele que está em Cristo nova criatura é (2Co 5.17; Gl 6.15), as coisas velhas se passaram eis que tudo se fez novo (2Co 5.17).  Quando a Bíblia diz nova criatura, a tradução literal é nova criação de Deus. Baseado nisto podemos dizer sem medo de errar que aquele espírito imundo que saiu da velha criatura quando tenta voltar para sua antiga casa, ele erra de endereço. Porque aquela velha casa não existe mais, foi por Cristo demolida, agora é uma nova casa edificada e habitada por Deus.

 

As outras palavras deste texto são: Entrando habitam ali. A pergunta é: Quem habita no crente? A Bíblia é unânime em dizer que é o Espírito de Deus quem habita no crente e nunca o diabo (Jo 14.17; Rm 8.9,11; 1Co 3.16; 6.19; 2Co 6.16; 2Tm 1.14; Tg 4.5). O Senhor Jesus disse que Ele e o Pai fariam morada no crente (Jo 14.23), é claro que isto se cumpre na pessoa do Espírito Santo, baseado nisto podemos afirmar que quando o Espírito de Deus habita no crente é como se a própria trindade estivesse habitando nele. A Bíblia diz que enquanto o Espírito de Deus está dentro do crente, é possível que os anjos estejam ao redor dele (Sl 34.7), porque em derredor está o diabo (1Pe 5.8). Dizer que o diabo está no crente é contrariar todos estes textos Bíblicos, e pior, é afirmar indiretamente que Deus mentiu em sua Palavra.

   

A Bíblia afirma que o Senhor pode entrar onde o diabo habita, amarrá-lo e saquear todos os seus bens (Mt 12.29), mas, nunca que o diabo pode entrar onde o Senhor habita e saquear Sua casa, para isto o diabo teria que ser mais forte que o Senhor (Lc 11.21,22). Com base nestes dois textos podemos dizer que quem afirmar que o diabo entra no crente, que é a casa de Deus, está afirmando que este é mais forte que o Senhor Jesus.

 

A Bíblia ainda diz que o diabo está no mundo enquanto que Deus está em nós:

 

Filhinhos, sois de Deus, e já o tendes vencido (espírito do anticristo); porque maior é o que está em vós do que o que está no mundo (1Jo 4.4).

 

Sabemos que todo aquele que é nascido de Deus não vive em pecado; antes Aquele que nasceu de Deus o guarda, e o Maligno não lhe toca (1Jo 5.18).

 

A tradução acima é da A.R.A. que afirma que o crente é nascido de Deus, uma nova criatura, e por isto não vive na pratica do pecado, e o Senhor Jesus é identificado neste texto como Aquele que é “o” nascido de Deus, e é Ele quem guarda o crente para que o Maligno, o diabo não lhe toque.

 

Se o texto Bíblico diz que o diabo não pode tocar no nascido de Deus, será que poderia ele entrar nele? Claro que não!

 

A Bíblia é enfática em afirmar que, para que um demônio possa agir na vida de um crente tem que ter autorização do Senhor, assim como teve para agir contra a vida de Jó (Jó 1; 2). Assim também no N. Testamento, nem mesmo em animais eles tiveram poder para entrar sem autorização do Senhor, se os demônios precisaram de autorização do Senhor para que pudessem entrar nos porcos (Lc 8.32), será que vão entrar na vida daqueles que são moradas Dele? Claro que não, a menos que o Senhor os autorize, mas, para tal o Senhor Jesus teria que negar a Si mesmo, pois esta ação contraria o seu caráter divino.

 

A proteção de Deus na vida do crente é total (1Jo 4.13), Ele nos protege por dentro e por fora. Por fora porque estamos Nele, e se estamos Nele estamos protegidos por fora e o diabo não nos pode tocar. Por dentro porque Ele está em nós e o diabo não pode em nós habitar: Nisto conhecemos que estamos Nele (protegidos por fora), e Ele em nós (protegidos por dentro), pois que nos deu do seu Espírito (a maior prova de Sua proteção) (1Jo 4.13).

 

Para confirmar tal doutrina de que o crente pode ser habitado por demônios, tais pessoas fazem de tudo com os textos Bíblicos, menos interpretá-los corretamente. Afirmam que quando o Senhor falou aos seus discípulos que a carne é fraca estava se referindo a uma fraqueza possível de ser possuída por demônios. Afirmar isto é adulterar o texto Bíblico que diz que a carne é fraca, por causa da tentação e não da possessão. O Senhor Jesus disse que a carne dos discípulos era fraca, porque mesmo que eles crescem no Senhor poderiam ser tentados, mas, não afirmou que poderiam ser possuídos. Vejamos as palavras do Senhor: Vigiai e orai para que não entreis em tentação, na verdade o espírito está pronto, mas, a carne é fraca (Mt 26.41; Mc 14.38). 

 

Há um texto na Bíblia em 1Co 5.1-5 que sugere a entrega do corpo de um crente ao diabo, para que este o destrua como forma de correção por um pecado gravíssimo que cometeu contra seu pai, possuindo sua própria madrasta, onde os membros da igreja ao invés de se entristecerem por isto, se orgulhavam. Paulo deixa claro no texto que o diabo só teria acesso ao corpo daquele jovem pela exclusão dele do corpo de Cristo. Mas, mesmo sendo excluído e tendo o corpo destruído pelo diabo, Paulo fala que o espírito daquele jovem ainda poderia ser salvo no dia do Senhor. É possível que este jovem que cometeu incesto e que foi excluído da comunhão com a igreja, tenha sido novamente admitido após seu arrependimento. Russel Shedd explicando este texto diz que ser entregue a Satanás, era a exclusão da igreja com suas bênçãos, privilégios e proteção e devolução ao reino das trevas onde Satanás cruelmente reina (cf. Ef 2.12; Cl 1.13; 1 Jo 5.19). A sentença incluiria provavelmente sofrimento e doença física. A excomunhão tem a esperança de produzir arrependimento. Não é punitiva, mas corretiva.

 

Alguns interpretes da Bíblia associam este jovem que cometeu incesto com alguém que foi restaurado novamente à comunhão na igreja registrado em 2Co 2.5-11, mas, não podemos comprovar isso.

 

NÃO HÁ EVIDENCIAS BÍBLICAS QUE CRENTES FICARAM ENDEMONINHADOS

As poucas passagens que são citadas como possíveis provas para se argumentar que o cristão pode ficar endemoninhado, são aquelas que falam do rei Saul, de Judas Iscariotes, de Pedro, e de Ananias e Safira.

 

Vamos analisar aqui cada uma delas. Começaremos com a passagem que fala do rei Saul. O texto que narra esta historia está em (1Sm 16.14-16; 19.9). O contexto era o seguinte, após Deus ter rejeitado a Saul como rei (1Sm 16.1), após ter escolhido um outro rei segundo o Seu coração para substituí-lo (1Sm 13.14), a saber Davi, e após Deus enviar Samuel para ungir a Davi como rei de Israel (1Sm 16.14), e a partir da unção, Davi ficou habitado pelo Espírito do Senhor, e o versículo seguinte sugere que assim que o Espírito do Senhor entrou em Davi, imediatamente saiu de Saul (1Sm 16.15), mostrando assim a imediata substituição da dinastia monárquica. O ungido de Deus agora passou a ser Davi e não mais Saul, por isto não fazia mais sentido o Espírito de Deus continuar nele, haja visto não ser mais o escolhido de Deus para reinar. Só depois destes fatos é que Saul foi atormentado pelo espírito mau (1Sm 16.14). O texto também não diz que Saul foi possuído e sim que foi atormentado.

 

Thomas Ice e Robert Dean em seu livro: Uma Rebelião Santa pag. 125, explicam que o caso de Saul não foi possessão demoníaca, assim eles dizem:

 

O espírito mau saía quando Davi tocava sua harpa (16.23) e não se acha nas Escrituras sobre demônio sair ao se tocar uma música. Ao invés disso, os demônios são expulsos no nome do Senhor. O texto em hebraico diz que o espírito mau vinha sobre Saul (...) Nunca é dito que ele tenha entrado em Saul, como se esperaria, caso se pretendesse transmitir a ideia de possessão demoníaca.

 

Podemos até admitir que Saul ficou realmente endemoninhado, mas, mesmo assim não podemos admitir que Saul era um crente em Deus, assumir esta posição é forçar a barra na interpretação do texto. Pois o texto Bíblico diz que o demônio só teve acesso a vida de Saul quando este perdeu a presença de Deus (1Sm 16.15). E a Bíblia diz que se alguém não tem o Espírito do Senhor este tal não é Dele (Rm 8.9), a prova de que Saul estava desviado de Deus é sua rebelião contínua contra o Senhor. Tudo começou com a desobediência contra a lei de Deus, oferecendo holocausto no lugar do sacerdote (1Sm 13.8-15), continuou na desobediência à ordem de Deus quanto aos amalequitas (1Sm 15.1-30), na perda do Espírito de Deus (1Sm 16.14), na sua obsessão de procurar matar a Davi (1Sm 19.1-7), na matança dos sacerdotes de Nobe bem como toda a família destes (1Sm 22.11-19), na consulta aos mortos pela feiticeira de En-Dor (1Sm 28.3-25), e por fim o suicídio (1Sm 31.1-13). Com tantas evidencias de seu desvio, não podemos admitir que Saul era um crente.

 

Vamos agora ao texto que fala de Pedro. Na apostila estava afirmado à possibilidade de que um crente pode ficar endemoninhado, o escritor da apostila afirma que o próprio Pedro ficou endemoninhado. O texto Bíblico não diz que Pedro ficou endemoninhado e sim que o diabo usou suas palavras para reprovar a Jesus (Mc 8.32). O texto de Marcos narra que o Senhor olha para seus discípulos antes de repreender a Pedro é provável que aquela repreensão foi dirigida a eles também, porque é possível que todos pensassem como Pedro. E só depois do Senhor repreender a Pedro é que se dirigiu ao diabo (Mc 8.33), que devia estar em volta os influenciando. É possível que as palavras do Senhor dirigidas ao diabo fossem uma afirmação de que este estava próximo de Pedro o influenciando e não de que estava dentro dele.

 

Mas, mesmo que admitíssemos que Pedro ficou endemoninhado, não podemos afirmar que ele era um cristão verdadeiramente convertido como afirmou o escritor da apostila. Sabemos que o novo nascimento é produzido pelo Espírito Santo (Jo 3.3,5) e no momento da conversão. A Bíblia não mente, e afirma que Pedro não era nascido de novo, pois não havia ainda recebido o Espírito Santo (Jo 7.39). Ele só recebeu o Espírito Santo após a ressurreição do Senhor (Jo 20.22). E o próprio Senhor quem disse que Pedro ainda não era convertido (Lc 22.32). Então concluímos que mesmo que Pedro tenha ficado endemoninhado, a Bíblia não afirma que era realmente convertido.  

 

Valnice Milhomens no seu livro Batalha Espiritual, pag. 55 diz:

Alguns argumentam que não há caso de cristãos possuindo demônios no Novo Testamento. Só há casos de judeus. Vejamos:

1- Judas Iscariotes. Recebeu um espírito imundo. Satanás entrou nele. Ele agasalhou maus pensamentos e abriu a porta para a entrada do maligno. Judas era um dos doze. Ele esteve envolvido na obra de pregar o Evangelho, curar enfermos e expulsar demônios.

2 - Ananias e Safira. Eram contados entre os crentes, mas entretiveram pensamentos de mentira e abriram seus corações para Satanás os encher.

 

É verdade que Judas Iscariotes ficou endemoninhado, pois Lucas declara que o diabo entrou nele (Lc 22.3). Mas, afirmar que ele era um cristão é adulterar muitos textos Bíblicos. O Senhor Jesus não afirmou que Judas era cristão, disse que era um diabo (Jo 6.70), esta afirmação do Senhor não é literal é simbólica, Judas não era o diabo era um representante dele. A Bíblia o chama de ladrão (Jo 12. 6), de traidor (Lc 6.16), de filho da perdição (Jo 17.12), aquele que ainda permanecia sujo (Jo 13.10,11). Paulo Romeiro em seu livro: Evangélicos em Crise pag. 125 ao combater a doutrina de que o crente fica endemoninhado diz: afirmar que Judas era um cristão seria uma ofensa aos demais discípulos.

 

O texto que narra o episodio de Ananias e Safira é (At 5:1-10).  Pelo texto temos a convicção de que eram realmente cristãos. Mas, nem por isto podemos afirmar que ficaram endemoninhados, porque o texto não diz isto. O texto não afirma que o diabo entrou neles, e sim que encheu o coração deles para mentirem e tentarem o Espírito de Deus (At 5.3,9). Esta passagem não fala de possessão demoníaca e sim de influencia. Se o diabo tivesse entrado neles não seriam eles que estavam mentindo a Deus e sim o diabo. E Pedro não deveria tê-los repreendido e sim expulsado o diabo deles. E o pior é que Deus, não teria sido justo por matá-los, se na verdade eles estivessem endemoninhados. Mas, Deus os matara porque eram responsáveis os únicos responsáveis por permitirem que o diabo colocasse mentiras em seus corações, sendo assim morreram porque eram responsáveis pelo seu pecado e não porque estavam endemoninhados. A pergunta de Pedro a Ananias descreve que tal influencia demoníaca poderia ter sido repelida (v. 3). E a pergunta de Pedro a Safira descreve que tal pratica deles poderiam ter sido evitada (v. 9).

 

Thomas Ice e Robert Dean, Jr., em seu livro: Uma Rebelião Santa, pag. 126, dizem:

 

Satanás, o "pai da mentira" (Jo 8:44), influenciou o coração de Ananias para mentir. Se Ananias tivesse ficado possuído por um demônio ou Satanás, teria sido Satanás dentro dele quem estaria mentindo, e a solução teria sido expulsar Satanás. Ananias seria apenas uma vítima inocente e não o autor do ato que a Bíblia declara ter ele sido (Atos 5:4). Ananias estava no controle e foi responsabilizado pela sua ação, e não Satanás. Esta passagem deve ser melhor entendida como um exemplo de como Satanás usou o coração rebelde de um cristão como base de operação.

 

Caio Fábio em seu livro: Batalha Espiritual pags. 157 e 158 conta que certa vez foi chamado para expulsar um demônio de um pastor que vivia uma vida de desobediência a Deus. Depois de liberto o pastor perguntou o que havia acontecido e se crente fica possesso. Essa foi a resposta de Caio Fábio: "Expliquei-lhe que pastor fica, crente não; presidente de denominação fica, crente não; gente que dá show em plataforma fica, crente não; crente batizado, selado no Espírito Santo da promessa, habitado pelo Senhor Jesus pode até ficar opresso, pressionado. O diabo pode tentar, induzir, cercar, angustiar, pode tocar na carne, mas possuir a consciência de um ser que foi comprado e lavado pelo sangue de Jesus, nunca! E se você ouvir dizer o contrário, repreenda, em nome de Jesus!" (Citado por Paulo Romeiro no livro: Evangélicos em Crise, pags. 126 e 127).

 

A Palavra de Deus nunca ensinou que um cristão ficou ou que pode ficar endemoninhado (1Co 2.12). Ele pode sim ser atacado, tentado, oprimido, seduzido, influenciado, mas, jamais possuído.

Por esta razão não se deve sair por ai afirmando e nem mesmo tentando expulsar demônios de crentes. Paulo Romeiro em seu livro: Evangélicos em Crise pag. 133, diz:

 

É totalmente antibíblico expulsar demônio de uma pessoa que nasceu de novo e que vive em Cristo. A Palavra de Deus dá total segurança ao crente fiel, pois o Filho de Deus se manifestou para destruir as obras do diabo (1 Jo 3:8), e "maior é aquele que está em vós do que aquele que está no mundo" (1 Jo 4:4). João disse ainda: "Sabemos que todo aquele que é nascido de Deus não vive em pecado; antes, aquele que nasceu de Deus o guarda, e o maligno não lhe toca" (1 Jo 5:18). Ora, se o maligno nem pode tocar naquele que é nascido de Deus, como vai habitar nele? Biblicamente impossível. Em nenhum lugar a Bíblia fala de expulsar demônios de crentes. A provisão de Deus para o crente vencer a guerra espiritual não é libertação e, sim, resistência, como escreveu Tiago: "Sujeitai-vos, portanto, a Deus; mas resisti ao diabo, e ele fugirá de vós" (Tg 4:7). Pedro também nos exorta a fazer o mesmo: "Resisti-lhe firmes na fé" (1 Pe 5:9).

 

Alguns por não possuir argumentos sólidos convincentes de que o crente fica endemoninhado, usam como artifício a teoria de que o demônio não habita no espírito do crente, mas, pode habitar na alma e no corpo. O escritor da apostila, afirmava também isto, quando diz:

 

Precisamos entender que o homem é um ser tripartido, ou seja, sua estrutura é formada de corpo, alma e espírito. O Espírito Santo habita no espírito do homem, sua parte mais intima. Por isso Jesus disse que o espírito na verdade está pronto, mas, a carne é fraca (Mt 26.41). Desta maneira, no espírito de um verdadeiro crente habita o Espírito Santo, mas, a sua alma e o seu corpo são corruptíveis e podem ser invadidos por demônios, se ele permitir.

 

Esta afirmação de que o Espírito de Deus habita no espírito humano enquanto que o diabo pode habitar na alma e no corpo do cristão é uma doutrina encontrada no livro: Porcos na Sala, pags. 132 e 133, de Frank e Ida Mae Hammond, que ao serem questionados como é que um cristão pode ter demônios, responderam:

 

Como é que um cristão pode ter demônios? (...) O Espírito Divino passa a habitar no espírito humano na hora da salvação. Os espíritos demoníacos estão relegados à alma e ao corpo do cristão. Os demônios afligem as emoções, a mente, a vontade e o corpo físico, mas não o espírito do cristão. A finalidade da libertação é tirar os demônios transgressores da alma e do corpo, a fim de que Jesus Cristo possa reinar também sobre estas áreas.

 

Valnice Milhomens discípula fiel de Kenneth Hagin vai ainda mais longe em seu livro: Batalha Espiritual, pag. 54, citando um escritor chamado Paul Tan, que defende a mesma doutrina, porem com um toque a mais, pois afirma que o Espírito Santo habita somente no espírito do crente e não no corpo, assim ela descreveu as palavras de Paul Tan:

 

“Assim como no templo, a presença de Deus estava no Santo dos Santos e não no lugar santo ou no átrio, também o Espírito Santo habita somente em nosso espírito e não em nosso corpo”. Ela conclui: "O átrio é impuro (...) Assim como o átrio pode ser dado aos gentios, o corpo pode ser dado aos espíritos imundos. O que acontece nesse caso é que enquanto o Espírito Santo habita no espírito, demônios podem habitar na carne (...) Eles se escondem em algum lugar nos cantos.

 

Tais afirmações não se encontram nas Escrituras, nenhum dos quarenta escritores Bíblicos afirmaram isso. Alias afirmaram justamente o contrario, em 1Co 6.13-19, Paulo fala que o Espírito Santo habita também no corpo do crente e não só no espírito (1Co 6.19), e afirma ainda que é nesta habitação que o corpo do crente se torna um membro do de Cristo (1Co 6.13,15), alguém poderá dizer que Paulo ao falar que o Espírito habita no corpo do crente estava se referindo a parte espiritual dele e não da física. Mas, tal argumento é refutado pelas Escrituras, porque Paulo no mesmo contexto ao falar de prostituição à igreja de Corinto usa a palavra corpo (1Co 6.18), e a prova de que não falava da parte espiritual do homem e sim do corpo físico, pois disse que o crente não podia unir seu corpo com uma meretriz pois seu corpo agora era membro do Corpo do Senhor (1Co 6.15), ninguém em sã consciência vai admitir que é possível se unir a uma meretriz em espírito. Com base neste texto de 1Co 6.13-19, qualquer pessoa que admiti que o diabo pode entrar no corpo de um crente está afirmando indiretamente que o diabo pode entrar no Corpo do Senhor, pois o corpo deste crente é agora membro do Corpo de Jesus.

 

A doutrina da tricotomia é Bíblica e fala da natureza do homem, porem não é Bíblica a afirmação citada acima. O pai da teologia da prosperidade Essek Willian Kenyon juntamente com seu fiel pupilo Kenneth Hagin são quem iniciaram a doutrina de que o homem é um espírito, que tem uma alma e que habita num corpo.

 

Mas, esta ideia a respeito do homem não reflete o que a Bíblia realmente fala sobre o assunto. O homem segundo a Bíblia é um ser inteiro e não somente parte de um todo. O homem segundo a Bíblia não é um espírito que tem uma alma e habita em um corpo. Ele é o espírito, ele é a alma e é o corpo. A chamada tricotomia é encontrada em 1Ts 5.23, e é parte integrante do ensino da antropologia. A tricotomia existe para que possamos entender a natureza humana, em seus três níveis, a saber: o espiritual, o psicológico (emocional) e o físico. E não para dividirmos o homem em partes e muito menos para o definirmos como uma parte de um todo. A Bíblia nunca fez está distinção de que o homem é uma parte e que possui as outras. Pelo contrario, quando ela se refere ao corpo deste, ela o chama de homem, quando se refere ao espírito deste o chama de homem e quando se refere a alma deste a chama de homem. Assim definiu C.I. Scofield o homem na sua tricotomia: Visto que o homem é espírito, é capaz de ter consciência de Deus, de comunicar-se com Deus (ver Jó 32.8; Sl 18.28 e Pv 20.27); e posto que o homem é alma, tem ele consciência de si mesmo (ver Sl 13.3; 42.5,6,11), e posto que o homem é corpo, mediante os seus sentidos toma consciência do mundo (ver Gn. 1.26).

 

C. A. Auberlen, disse: Corpo, alma, e espírito não são nada além da base real dos três elementos do ser humano, consciência do mundo, autoconsciência e consciência de Deus.

 

Quando Deus criou o homem, não o criou para ser dividido. A morte do homem é a paga pela sua desobediência, mas, nunca foi a intenção de Deus que o homem morresse, é por esta razão que os homens vão ressuscitar, tanto os bons quanto os maus (Dn 12.1; Jo 5.28,29), para que possam seguir na eternidade no destino que escolheram, quer seja com Deus ou sem Ele. 

 

Podemos afirmar que o homem é um ser tríuno indivisível, com exceção da morte física que é uma conseqüência do pecado, mas que não é o estado final, por ser de caráter temporário.

 

Preciso terminar o meu discurso, mas, se terminá-lo agora, estará incompleto. É necessário dar uma explicação a respeito das “muitas” experiências de manifestação de demônio na vida dos supostos crentes.

 

Primeiro se uma pessoa que está na igreja que consideramos cristã ficar endemoninhada é prova de que não é cristã, o máximo que podemos dizer dela é que é uma freqüentadora de igreja. O fato de alguém freqüentar a igreja não faz dele um cristão. Alguém certa feita disse: O fato de eu estar em uma garagem faz de mim um carro? Assim também só pelo fato de alguém freqüentar uma igreja não faz dele um cristão.

 

Segundo precisamos diferenciar decisão de conversão. É comum escutarmos após uma cruzada evangelística, que tantas e tantas almas se converteram ao Senhor. Mas, quem pode nos afirmar com certeza que aquelas almas realmente se converteram? Só Deus sabe se houve ou não conversão. O que podemos afirmar no máximo é que aquelas almas se decidiram a Cristo e não que se converteram a Ele. É comum vermos pessoas se decidirem a Cristo em nossas igrejas, mas, no decorrer dos dias vamos percebendo que infelizmente não se converteram. Com certeza todos nós já vimos pessoas se decidindo a Cristo, até mesmo repetindo aquela famosa oração: Escreva meu nome no Livro da vida. Mas, muitas delas não permanecem em Cristo. Algumas destas pessoas se decidem a Cristo, não porque foram atraídas pela mensagem da cruz e nem porque querem a salvação, mas, porque querem uma resposta rápida para os seus problemas emergenciais. Neste caso tais pessoas não se tornaram habitação do Espírito Santo, e não podem ser consideradas convertidas ou cristãs.

 

A conversão não é uma mera decisão que se afirma com palavras. Pelo contrario é uma mudança radical de mente, que leva o homem a ter novos comportamentos. A conversão Bíblica é a mudança total e radical onde o homem abandona tudo e se volta completamente para Deus. Ela é descrita na Bíblia da seguinte forma “uma mudança das trevas para a luz e do poder de Satanás para Deus”. Foi assim que o Senhor definiu a conversão à Paulo: Para lhes abrires os olhos, e das trevas os converteres à luz, e do poder de Satanás a Deus; a fim de que recebam a remissão de pecados, e herança entre os que são santificados pela fé em Mim (At 26.18).

 

A conversão apesar de ser uma exigência divina para a salvação do homem, este por si só não é capaz de se converter. Deus é o responsável pela conversão, pois é Ele quem abre os olhos do homem, é Ele quem ilumina o homem tirando-o das trevas, é Ele quem liberta o homem do poder de Satanás, é Ele quem resgata o homem dos seus pecados, é Ele quem santifica o homem, e tudo isto, gratuitamente pela fé em Jesus: pela fé em Mim (At 26.18). Mas a decisão de se converter a Deus, parte da vontade do homem em aceitar a graça de Deus respondendo positivamente ao chamado divino.

 

A conversão cristã está direta e intimamente ligada ao novo nascimento. Conversão e novo nascimento são distintos apenas nas palavras, mas são sinônimos no conceito da doutrina. É impossível falarmos de conversão sem falar de novo nascimento ou falarmos de novo nascimento sem falar de conversão. Não é possível também afirmarmos que alguém é convertido se não há evidencia de um novo nascimento em sua vida. 

 

O Dicionário de Ética Cristã de Carl Henry na pag. 142, define conversão da seguinte forma:

A conversão não é uma mera troca de um conjunto de crenças por outro, mas, no mais profundo sentido cristão, tem de ser uma volta de todo o coração para Deus. O aspecto interior da conversão é definido pelo novo nascimento (Jo 3.3-8), uma transformação tão radical de mente, emoções e vontade que só pode ser descrita pela figura do nascimento para uma nova vida. Como o bebê entra no mundo físico com uma existência totalmente nova e cresce numa nova experiência, assim também a conversão, neste sentido é um novo começo em relação a Deus. A regeneração é o ato divino que inicia e ocorre juntamente com a conversão.

 

J. D Duglas no Novo Dicionário da Bíblia, pag. 258 define assim a conversão: A conversão consiste na entrega própria àquela união com Cristo que é simbolizada pelo batismo: união com Ele em sua morte, o que concede libertação da penalidade e do domínio do pecado; e união com Ele na sua ressurreição dentre a morte, para que o crente viva para Deus por intermédio de Cristo e com Ele ande em novidade de vida, por intermédio do poder do Espírito Santo que lhe vem habitar no íntimo.

 

Terceiro há também aquelas pessoas que se decidem realmente a Cristo e querem realmente a salvação, mas, precisam de uma libertação. Neste caso também não podemos admitir que houve conversão, por a pessoa ainda precisar de libertação do poder do diabo. Podemos afirmar que tal pessoa está em processo de conversão. Pois a Bíblia afirma que a conversão está associada a liberdade do Espírito, pois diz que onde está o Espírito do Senhor ai há liberdade (2Co 3.17), no versículo anterior a este texto Paulo associa liberdade a conversão (2Co 3.16). O Senhor também disse todos os que são nascidos do Espírito são livres como o vento (Jo 3.8), e neste caso pela falta de libertação não se pode afirmar que houve um novo nascimento ou uma conversão, haja visto que a conversão esta associada a libertação do poder do diabo (At 26.18; Cl 1.13; 1Pe 2.9).

 

Quarto é possível que alguém que consideramos crente, que vimos evidencias em sua vida de sua identidade cristã, mas, que por algum motivo, no meio de sua trajetória, perdeu a presença do Espírito Santo, assim como o rei Saul, neste caso tal pessoa pode sim ficar endemoninhada. Isto é confirmado pelo Senhor que disse que o espírito imundo encontrando a casa vazia pode entrar nela novamente com mais sete (Mt 12.43-45).

 

A conclusão que podemos fazer é a seguinte, não é possível nem pelos fatos e muito menos pelas Escrituras afirmar que o cristão pode ficar endemoninhado. Toda vez que alguém afirmar que o cristão pode ficar endemoninhado estará contrariando a Palavra de Deus e negando todos os textos Bíblicos mencionados aqui.

 

Que possamos nos desprender de todo ensinamento errado que tivemos e nos comprometer em seguir sem desvio o conselho do apostolo Paulo de não irmos além do que está escrito (1Co 4.6), para que possamos crescer na Graça e no conhecimento. Espero que possa ter contribuído de alguma forma, e que possa ter esclarecido sobre o assunto. Se preciso for me coloco a disposição para melhores esclarecimentos. Que Deus vos abençoe em nome de Jesus.

 

À Deus que nos protege por dentro porque habita em nós, e que nos protege por fora porque estamos Nele, seja a honra, a glória e o louvor para sempre amém.

 Aldrin Max