Movimento Dos Desigrejados Por Claudionor de Anrade

Movimento Dos Desigrejados Por Claudionor de Anrade

MOVIMENTO DESIGREJADO X A BÍBLIA (Por Claudionor de Andrade)

A muito queria escrever sobre este movimento de desigrejados que vem crescendo no Brasil. Creio que minhas palavras não seriam mais brilhantes do que as relatadas abaixo.

“A primeira vez que ouvi falar dos desigrejados fiquei um pouco confuso. De inicio, supus tratar dos sem-igrejas. Afinal há milhões de pessoas que não foram alcançadas pelo Evangelho. É só abrir  a cortina 10 X 40, para visualizar povos, nações e tribos que suspiram por Deus. Em seguida pensei num outro grupo: os sem templos. Pois existem muitas comunidades cristãs, principalmente nas regiões ribeirinhas e nas catingas, que lutam com dificuldade para construir seus locais de adoração.

Resolvi, então, aprofundar-me no assunto. Fui ao computador, acionei o Google, e digitei: desigrejados. Os sites vieram-me as dezenas. Até aquele dia não sabia que os desigrejados já era um fenômeno. Tive, porem dificuldades para atinar-lhes com a origem. Onde surgiu essa gente? No Brasil? Ou nos Estados Unidos? Como as informações eram desencontradas, achei por bem deixa-las de lado e concentrar-me no problema em si.

Descobri, depois de algumas pesquisas, que os desigrejados compõem um grupo enorme de evangélicos que, decepcionado com a igreja, alegam servir apenas a Cristo. Eles têm inclusive uma confissão de fé: “Jesus, sim; Igreja não”. Lembrei-me em seguida de que em Corinto também havia um grupo de desigrejados.  E eles diziam pertencer apenas a Cristo. Havia os que revelavam forte predileção por Cefas (Pedro). Tinha os que se identificavam com Paulo. E também os que se empenhavam por Apolo. Mas deveo dizer que o pior grupo era os que declaravam ser apenas de Cristo.

 

UM VERBO FATAL

Ainda um pouco aturdido, recorri aos dicionários para ver se o verbo desigrejar já havia sido registrado. Em nenhum dos léxicos eu encontrei. Mas vim a concluir o obvio: embora não haja sido lexicografado, vem sendo conjugado em todas as vozes e modos. Pelo menos é o que revela o ultimo senso de IBGE. Suponhamos porem, houvesse o verbo desigrejar. Seria ele transitivo? Ou intransitivo? Precisaria de um verbo auxiliar para emprestar-lhe algum significado? Como não sou linguista não posso me dar ao luxo de discutir semelhante questão. Para mim, o desigrejado se algum sentido tinha, perdeu-o nalgum trecho de sua jornada.

Se a partir deste fenômeno um substantivo foi criado, acho possível arranjar-lhe alguns sinônimos. Pensei nestes: desrebanhados, despastorados, desmembrados e, finalmente descristianizados. No momento, não me ocorrem outros. Nos meus tempos de criança o desigrejado era conhecido por um único epiteto: desviado. O meigo Jesus diria tratar-se de um filho prodigo. Mas tanto o desviado quanto o prodigo anseiam voltar a casa paterna. Os desigrejados não; eles são a sua própria igreja. Talvez até possuam uma ata com os termos de sua fundação.     

 

UM ROSTO BONITO, CORPO FEIO

Como reagiria você se alguém lhe declarasse: “Acho o seu rosto lindo, mas o seu corpo é muito feio”. Tal assertiva seria tida como deseducada e ofensiva. Mas é o que muitos crentes estão dizendo a Jesus. Sim, isso acontece todas as vezes que um desigrejado profere o seu credo: “Cristo, sim; Igreja, não”. Não é Jesus cabeça da Igreja? E não é a Igreja o seu corpo místico? Então, como posso achar-lhe bonita a cabeça e feio o corpo?

Usemos outra metáfora. Como você se sentiria, se um amigo lhe confidenciasse: “Gosto muito de você. Porém, não lhe aturo a esposa”. Se formos aos escritos paulinos, descobriremos que a Igreja é a esposa do Cordeiro. E que por ela, entregou-se o Senhor à mais horrenda das mortes. Logo, não podemos repugnar-lhe o corpo, nem repulsar-lhe a esposa. A Igreja é o grande projeto de Deus, pois através dela expande-se o Reino dos céus até aos confins da terra.

 

EU PRECISO DA IGREJA

Não consigo passar sem Igreja. Descobri que necessito mais dela do que ela de mim. Se não vou ao culto, segrego-me. Ilho-me e distancio-me. Logo, concluo: a Igreja embora não me salve, é-me necessária à salvação; dela advém-me os meios da graça.

Não vá pensar que me guio pela cartilha de Cipriano. Que pelo ano de 250, escreveu o celebrado doutor de Cartago: ‘Fora da Igreja não há salvação”. Mais adiante arremeta: “Ninguém pode ter a Deus como Pai se não tiver a Igreja como mãe”. Não quero radicalizar-me, pois em teologia todo extremismo acaba por puxar outro extremismo. Entretanto, ouso acrescentar: “Lugar de salvo é na casa do Pai e lugar de filho obediente é junto da mãe”.

Sei muito bem que nem todos os que estão na igreja são Igreja. Todavia, os que são Igreja estão nalguma igreja. A conclusão é mais do que obvia: na igreja, está a Igreja. E isso para mim basta. Assim como em Israel estava o Israel de Deus, o mesmo ocorre com a Igreja. Mas, o que fazia o Israel verdadeiro? Abandonava o Israel institucional? O remanescente fiel sabia que estar entre os pagãos era pior do que permanecer entre os nominais. Por isso, os santos perseveravam através de seu testemunho e confissão.

Na esposa do Cordeiro, vemos às vezes alguma ruga. Esse sulco, porém, pode ser eu. Ou, então, você. Mas, nem por isso, o Senhor deixa de apreciar-lhe a beleza. Esposo amante que é, tira-lhe todos os franzidos através da ação do Espírito Santo. E, assim, você e eu somos adornados para o dia de nossa plena redenção. Se a Igreja é imperfeita, eu sou a imperfeição. Por isso, não arredo pé de seus átrios, pois ela conduz-me, através dos instrumentos da graça, à perfeição em Cristo.

 

CREIO NA COMUNHÃO DOS SANTOS                

No credo dos Apóstolos, redigido por volta do segundo século, há uma clausula que me chama a atenção por sua simplicidade beleza: “Creio na comunhão dos santos”. Oriunda do vocábulo grego KOINOMIA, a palavra ‘COMUNHÃO’ denota, entre outras coisas, companheirismo. Ora, se a palavra “companheiro” significa etimologicamente “aquele que come pão junto”, não posso deixar de evocar esta emblemática passagem de Atos:

“E perseveravam na doutrina dos apóstolos e na comunhão, no partir do pão e nas orações. Em cada alma havia temor, e muitos prodígios e sinais eram feitos pelos apóstolos. Todos os que criam estavam unidos e tinham tudo em comum. E vendiam suas propriedades e bens e os repartiam por todos, segundo a necessidade de cada um. E, perseverando unânimes todos os dias no templo, e partindo o pão em casa, comiam com alegria e singeleza de coração, louvando a Deus, e caindo na graça de todo o povo. E cada dia acrescentava-lhes o Senhor os que iam sendo salvos”. (At 2.42-47).

Na leitura deste texto, conclui-se imediatamente: na Igreja Apostólica, não havia desigrejados; existia comunhão perfeita. Portanto, observemos a recomendação do autor sagrado aos que iam se desigrejando: “Não deixemos de congregar-nos, como é costume de alguns; antes, façamos admoestações e tanto mais quanto vedes que o Dia se aproxima (Hb 10.25). 

 

Por conseguinte. Quem se agrega ao Noivo não pode deixar de congregar com a Noiva”.

C. de Andrade