A Lei e a Graça

A Lei e a Graça

Há um contraste entre a doutrina da Lei e da Graça. Lei da palavra grega nomoV e Graça da palavra grega cariV, cada uma diz respeito a uma dispensação, tendo uma origem e destinatário diferentes. Ambas vêm de Deus, mas se originaram na vida do povo por intermédio de pessoas diferentes, por exemplo: Moises entregou a Lei e a Graça veio através de JESUS conforme escreveu João: Porque a lei foi dada por Moisés; a graça e a verdade vieram por JESUS Cristo (Jo 1.17).

A Lei veio exclusivamente para um povo, a saber: Israel (Lv 26.46), mas a Graça veio para todos os povos (Rm 5.18; Tt 2.11).

Cada uma veio com um propósito diferente, a lei veio para fazer com que o pecado fosse reconhecido e se multiplicasse na consciência do pecador, mas a Graça para abolir o pecado e superabundar a justiça divina: Veio, porém, a lei para que a ofensa abundasse; mas, onde o pecado abundou, superabundou a graça; Para que, assim como o pecado reinou na morte, também a graça reinasse pela justiça para a vida eterna, por JESUS Cristo nosso Senhor (Rm 5.20,21).

Quem está debaixo da Lei está debaixo do domínio do pecado, quem está debaixo da Graça está livre deste domínio: Porque o pecado não terá domínio sobre vós, pois não estais debaixo da lei, mas debaixo da graça (Rm 6.14).

A Lei era passageira, transitória, ao passo que a Graça durará para sempre (Rm 10.4; 2Co 3.11). A Graça de Deus anulou a Lei e quem ama já cumpriu toda a lei:

A ninguém devais coisa alguma, a não ser o amor com que vos ameis uns aos outros; porque quem ama aos outros cumpriu a lei. O amor não faz mal ao próximo. De sorte que o cumprimento da lei é o amor (Rm 13.8,10).

Mas, mesmo a Graça sendo um favor divino, nela contém lei:

Onde está logo a jactância? É excluída. Por qual lei? Das obras? Não; mas pela lei da fé (Rm 3.27).

Na Graça JESUS deixou-nos um novo mandamento:

Um novo mandamento vos dou: Que vos ameis uns aos outros; como eu vos amei a vós, que também vós uns aos outros vos ameis. Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros (Jo 13.34,35).

E este novo mandamento na Graça é a essência de todos os outros antigos mandamentos da Lei:

Com efeito: Não adulterarás, não matarás, não furtarás, não darás falso testemunho, não cobiçarás; e se há algum outro mandamento, tudo nesta palavra se resume: Amarás ao teu próximo como a ti mesmo (Rm 13.9).

Pelo menos nove dos dez mandamentos são repetidos como princípios morais no N. Testamento, mas nunca são aplicados com objetivo de serem salvos quem os pratica.

Tais princípios ao serem observados no N. Testamento não são para sermos salvos, mas por que fomos salvos, ou seja, são para serem praticados pelos que já foram salvos e a própria capacidade de cumpri-los não faz parte de uma virtude pessoal humana, mas é um milagre da graça de Deus manifesta em nós. Pois foi Ele quem escreveu Sua lei em nossos corações (Jr 31.33; 2Co 3.3; Hb 8.10).

A Repetição dos Nove dos Dez Mandamentos no N. Testamento

1.Não terás outros deuses diante de mim (Ex 20.3)

1.Vos convertais ao Deus vivo, que fez o céu, e a terra (At 14.15)

2.Não farás para ti imagem de escultura (Êx 20.4)

2.Filhinhos, guardai-vos dos ídolos (Jo 5.21)

3.Não tomaras o nome do Senhor teu Deus em vão (Ex 20.7)

3.Não jureis nem pelo Céu, nem pela terra (Tg 5.12)

4.Lembra-te do dia do sába­do, para o santifícar (Ex 20.8)

4.(Não há este mandamento no N. Testamento)

5.Honra a teu pai e a tua mãe (Êx 20.12)

5.Filhos, obedecei a vossos pais (Ef 6.1)

6.Não matarás (Êx 20.13)

6.Não matarás(Rm 13.9)

7.Não adulterarás (Êx 20.14)

7.Não adulterarás (Rm 13.9)

8.Não furtarás (Êx 20.15)

8.Não furtarás (Rm 13.9)

9.Não dirás falso testemunho (Êx 20.16)

9.Não mintais uns aos outros (Cl 3.9)

10.Não cobiçarás (Êx 20.17)

10.Não cobiçarás (Rm 13.9)

 

No N. Testamento se repete pelo menos: 50 vezes o dever de adorar somente a Deus; 12 vezes a advertência contra a idolatria; 4 vezes a advertência para não tomar o nome do Senhor em vão; 6 vezes a advertência contra o homicídio; 12 vezes a advertência contra o adultério; 6 vezes a advertência contra o furto; 4 vezes a advertência contra o falso testemunho; 9 vezes a advertência contra a cobiça. Em nenhum lugar do N. Testamento, no entanto, é encon­trado o mandamento de guardar o sábado.

Segundo alguns eruditos houve um momento na chamada história da Igreja primitiva que em algumas regiões o sábado semanal era observado como mandamento, por causa da influencia negativa dos cristãos judaizantes. Mas o concilio de Laodiceia (364 D.C) condenou tal prática trazendo proibição de se observar tal dia como mandamento divino. Foi determinado ainda neste concilio de que a adoração aos anjos praticada por muitas igrejas era proibida pela Bíblia e que se tornou comum em algumas igrejas por causa da influencia dos falsos mestres do Gnosticismo. Entre tais proibições estava a descontinuação de louvores heréticos chamados de não cristãos ou não autorizados.

A Igreja passou a adorar a Deus aos domingos ao invés do sábado judaico por alguns motivos, entre eles por que JESUS ressuscitou no domingo (Mc 16.9), e fez suas aparições após a ressurreição aos discípulos aos domingos (Jo 20.19,26), e a descida do Espírito Santo também ocorreu no domingo (At 2.1), e por fim a gloriosa aparição de JESUS a João na ilha de Patmos ocorreu também no domingo (Ap 1.10).  A igreja também se ajuntava para cultuar a Deus, partir o pão e coletar ofertas no domingo (At 20.7; 1Co 16.2).

Mas, a partir da ascensão do Senhor e também da inauguração da Igreja em Atos, temos prova de que a Igreja passou adorar a Deus não só no domingo, pois não fazia distinção entre dias de adoração ao Senhor, pois permanecia unânime todos os dias no Templo (Lc 24.53; At 2.46), e ensinavam todos os dias incessantemente a respeito de JESUS no Templo e nas casas (At 5.42), 

E Paulo deixou claro não haver necessidade de se guardar determinado dia, por não haver distinção entre os dias da semana (Rm 14.5). O texto de Paulo aos romanos indica que nenhum dia é mais santo do que outro e que são iguais todos os dias.

E o sábado deixou de ser obrigatório como mandamento por alguns motivos. Primeiro porque não estamos debaixo da lei e sim da graça (Rm 6.14,15). Segundo porque o sábado era transitório e Deus disse que teria um fim, conforme profetizou Oséias: E farei cessar todo o seu gozo, as suas festas, as suas luas novas, e os seus sábados, e todas as suas festividades (Os 2.11). E terceiro porque era sombra do Corpo de Cristo (Cl 2.16,17; Hb 10.1), e qualquer pessoa que passar a observá-lo como mandamento estará saindo de Cristo e voltando para aquilo que era transitório e obscuro, ou seja, sai da realidade que é Cristo e vai para sombra Dele: Portanto, ninguém vos julgue pelo comer, ou pelo beber, ou por causa dos dias de festa, ou da lua nova, ou dos sábados, que são sombras das coisas futuras, mas o corpo é de Cristo (Cl 2.16,17).

Quando Paulo disse que os dias de festas judaicas, lua nova e sábados eram sombras das coisas futuras, estava afirmando que eram sombras de Cristo. Com a chegada de Cristo não precisamos mais das suas sombras.

Quando Paulo chama tais coisas de sombras estava afirmando que elas eram inexatas, que seus valores espirituais não eram plenamente definidos, que eram de natureza incompleta, que as suas lições espirituais não eram perfeitamente conhecidas, que eram temporárias, pois a sombra tem que desaparecer quando a realidade do Corpo aparece. Eram inferiores, tinham certo valor, mas bem pequeno em comparação com a realidade espiritual que é Cristo. Eram realidades simbólicas e obscuras das realidades que haveria de se revelar em Cristo. Quando o Senhor encarnou, habitando entre os homens, trouxe a cada crente a substancia corpórea da realidade de tudo aquilo que na religião judaica era apenas símbolos em suas cerimônias, rituais e dias de descanso.

Assim como um corpo projeta uma sombra, e apesar desta o representar, ela nunca poderá ser confundida com a realidade do corpo, ou substituí-lo. Assim também os ritos, cerimônias e dias de sábados judaicos jamais poderão voltar a serem observados, pelos que crêem em Cristo, pois apenas simbolizava Jesus e não pode substituir Este.  

Cristo é o nosso sábado, ou seja, é o nosso descanso. Nele descansamos de nossas obras pecaminosas estando em perfeita harmonia com Deus. Ele mesmo disse: Vinde a mim todos os que estais cansados e sobrecarregados que Eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração; e acharei descanso para vossas almas (Mt 11.28,29).

É bom lembrar que o domingo não é o sábado cristão conforme muitos pensam, e muito menos que se tornou obrigatória a sua observação conforme era o sábado judaico. E também que, o domingo não se tornou mais digno do que o sábado ou qualquer outro dia da semana, pelo fato dos crentes primitivos terem se reunido para cultuar a Deus neste dia. Todos os dias são iguais na atual dispensação da graça. Mesmo porque apesar dos primeiros cristãos terem se reunido para adorarem a Deus no primeiro dia da semana, não há nenhum texto no N. Testamento que ensina que o domingo deva ser guardado como se este tivesse substituindo o sábado.

Quem quiser guardar o sábado ou qualquer outro mandamento para se justificar diante de Deus, não tem noção do que é a graça de Deus.  A Lei e a Graça são antagônicas e estão a muitos quilômetros de distancia uma dá outra, pelo que é impossível abrasar as duas. Quem optar por uma estará automaticamente rejeitando a outra.

Porque a Lei não justifica a ninguém diante de Deus, mas a Graça justifica a todos pela fé (Rm 3.20,21,28; Gl 2.16), quem tenta se justificar pela Lei, caiu da Graça de JESUS Cristo e para este não resta mais salvação (Gl 5.4), quem tenta se justificar pela Lei, aniquila a Graça de Deus e demonstra que Cristo morreu em vão (Gl 2.21).

E qualquer versão de um evangelho legalista, que obrigue as pessoas a obedecerem as leis do A. Testamento, não é o Evangelho de Cristo, é uma perversão da Graça divina. E só desfrutarão da verdadeira liberdade em Deus, aqueles que compreenderem que a salvação é concedida gratuitamente aos homens exclusivamente pela fé em JESUS Cristo. Qualquer pessoa por mais bem intencionada que esteja e que passar a observar a Lei como base para sua salvação, estará na verdade se tornando ainda mais escrava, não tendo condições alguma de se libertar (Gl 5.1) e com certeza tal pratica é prova cabal de que já perdeu a Graça de Deus em JESUS Cristo (Gl 5.2-4). A Lei condena e mata (2Co 3.6-8), a Graça justifica e concede a vida a todos os que se achegam a Deus com fé (Rm 8.18,21; Tt 3.7).

Em síntese, Graça significa favor imerecido, merecíamos a condenação divina no inferno, mas Deus por sua infinita misericórdia através de seu grande amor nos manifestou sua Graça.

As definições para misericórdia e graça são as seguintes: Misericórdia é Deus não me dar o que eu mereço. Por causa dos meus pecados sem sombra de duvida eu merecia a condenação eterna, mas Deus pela sua infinita misericórdia não me deu o que eu mereço. E graça é Deus me dar o que eu não mereço. Eu não merecia a salvação, mas Deus por sua graça me deu aquilo que eu não mereço.

A Lei findou porque era temporária, mas a graça de Deus durará para sempre. A Lei fez os pecados dos homens se multiplicarem, ou seja aumentou em suas consciências, ao passo que graça mostrou-se ainda mais eficiente, abundou nos homens a justiça de Deus. A lei ficou ultrapassada, pois não era suficiente para tratar dos pecados dos homens e por isso foi substituída (Hb 8.7-13). Mas, nada pode ou poderá substituir a graça de Deus, pois ela é suficiente para tratar de todos os pecados do homem. Jamais alguém será justificado diante de Deus pelas obras da lei e muito menos poderão ser santificados através dela.

Devemos tomar muito cuidado com os cristãos judaizantes de nossos dias e combater veemente as suas heresias, pois tentam de todas as formas implantar suas crenças heréticas no seio da Igreja, resgatando tudo da Lei, inclusive amuletos, roupas, festas e toda espécie de culto judaico. São influenciados pelo legalismo judaico que desde a época dos apóstolos queriam transformar a Igreja cristã em uma sinagoga judaica. Que Deus nos guarde de tais práticas.

Recapitulando, Há quem diga que o A. Testamento contem 613 mandamentos, ao passo que o N. Testamento tudo se ressume em 2. [1]Prefiro acreditar que JESUS não disse que no N. Testamento tudo se resume em 2 mandamentos, JESUS não disse que na Nova Aliança os mandamentos são dois, Ele disse que todos os livros do A. Testamento ou seja a Lei de Moises e juntamente com os profetas se resumem em dois mandamentos:

E JESUS disse-lhe: Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu pensamento. Este é o primeiro e grande mandamento.

E o segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Destes dois mandamentos dependem toda a lei e os profetas (Mt 22.37-39).

Mas o N. Testamento, acredito escandalizar a alguns aqui, vai alem de amarmos a Deus e ao próximo como a nós mesmos (Mt 22.37-39). Os livros do N. Testamento tem o seguinte mandamento como base: Um novo mandamento vos dou: Que vos ameis uns aos outros; como eu vos amei a vós, que também vós uns aos outros vos ameis. Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros (Jo 13.34,35).

Como o Senhor nos amou? Entregando sua vida por nós (Ef 5.25), e como devemos amar os irmãos dando nossa vida por eles, não para salvá-los como o Senhor fez, mas para socorrê-los, auxiliá-los nas suas dificuldades e tribulações com recursos de nossas posses para mostrar que realmente os amamos. Quem odeia é homicida, ao passo que quem ama dá sua própria vida pelo irmão:

Nós sabemos que passamos da morte para a vida, porque amamos os irmãos. Quem não ama a seu irmão permanece na morte. Qualquer que odeia a seu irmão é homicida. E vós sabeis que nenhum homicida tem a vida eterna permanecendo nele. Conhecemos o amor nisto: que ele deu a sua vida por nós, e nós devemos dar a vida pelos irmãos. Quem, pois, tiver bens do mundo, e, vendo o seu irmão necessitado, lhe cerrar as suas entranhas, como estará nele o amor de Deus? Meus filhinhos, não amemos de palavra, nem de língua, mas por obra e em verdade (1Jo 3.14-18).  João ainda disse que assim como Deus nos amou devemos amar nossos irmãos, e disse que jamais Deus foi visto por alguém, mas que Deus pode ser visto na vida de um crente, ou seja que Ele está em nós quando nos amamos:

Amados, se Deus assim nos amou, também nós devemos amar uns aos outros. Ninguém jamais viu a Deus; se nos amamos uns aos outros, Deus está em nós, e em nós é perfeito o seu amor (1Jo 4.11,12) E Paulo diz que se há algum mandamento, todos os mandamentos se resumem no amor (Rm 13.9).

João ainda disse que o mandamento do N. Testamento também é crer no nome de JESUS Cristo Filho de Deus:

E qualquer coisa que lhe pedirmos, Dele a receberemos, porque guardamos os seus mandamentos, e fazemos o que é agradável à sua vista. E o seu mandamento é este: que creiamos no nome de seu Filho JESUS Cristo, e nos amemos uns aos outros, segundo o seu mandamento.

E aquele que guarda os seus mandamentos Nele está, e ele Nele. E nisto conhecemos que Ele está em nós, pelo Espírito que nos tem dado (1Jo 3.22-24)

Há quem diga que a Graça nos tornou a dar aquilo que perdemos no Éden, mas a pergunta é: Como era a comunhão entre Deus e o homem no Éden? Deus o visitava na viração do dia (Gn 3.8), e como é a comunhão com de Deus com os homens na Graça, Ele vem nos visitar? Não! Ele habita em nós (1Co 3.16), então concluímos que a Graça não nos deu aquilo que um dia perdemos, ela nos deu aquilo que nunca tivemos! Por isso ela só pode ser chamada de Maravilhosa Graça de Deus.